Cerca de 3 milhões de pessoas prestigiaram a 14º Parada do Orgulho Gay realizada no último domingo
Domingo, início da tarde. O tom calmo e tranqüilo, que geralmente impera na Avenida Paulista neste dia da semana, deu lugar a uma agitação que fez lembrar: ali é um dos principais centros nervosos de São Paulo. Mas não se assuste. Os escritórios não fizeram hora extra neste final de semana. As gravatas, paletós e semblantes sérios deram lugar às plumas, trios elétricos e ao colorido tradicional do arco íris. Começava a 14º Parada do Orgulho Gay, realizada na capital paulista no último dia 6 de junho, e que arrastou 3 milhões de pessoas, firmando-se mais uma vez como um dos maiores eventos do mundo.
Ao longo da Avenida, público diverso. Turistas, curiosos, famílias, idosos e jovens. Nesta edição, a organização da Parada trouxe para a reflexão do público um tom político, trazendo o tema “Vote contra a homofobia, defenda a cidadania”, mandando um alerta aos parlamentares que compactuam com a homofobia e a criminalização dos homossexuais.
De forma descontraída, os presentes protestaram a todo o momento contra a intolerância e, principalmente, o preconceito sexual. “Através deste tema estamos estimulando as pessoas a votarem em candidatos que, de fato, se preocupem com a comunidade LGBT”, afirmou Alexandre Santos, presidente da Associação da Parada do Orgulho Gay de São Paulo.
Aproveitando a proximidade das eleições, o Movimento LGBT também falou sobre a importância da consciência do voto, de forma a escolher o candidato que se comprometa com as questões de interesse do Movimento LGBT. Além disso, trouxeram à tona projetos de lei que estão em tramite na Câmara e no Senado Federal sobre políticas de inclusão, tais como, garantia do estado laico e a defesa da educação laica.
Combater a homofobia dentro das universidades e escolas
As entidades estudantis, como é tradição todos os anos, também foram para a Avenida Paulista engrossar o coro na luta contra a homofobia no país. Representantes da União Nacional dos Estudantes (UNE), União brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), a Associação Nacional dos Pós-Graduandos (ANPG), a União Estadual dos Estudantes (UEE-SP) e União Paulista dos Estudantes Secundaristas (UPES) distribuíram adesivos e um manifesto da campanha “Universidade fora do armário – Combater a homofobia dentro das universidades e escolas”.
O diretor LGBT da UNE, Denílson Júnior (foto), conversou com o EstudanteNet sobre a luta travada junto às autoridades para conseguir acabar com possíveis perseguições à comunidade LGBT dentro do âmbito acadêmico. “Estamos com a campanha travando batalha nas universidades e escolas contra a homofobia. Estamos procurando expor aos estudantes a importância de se respeitar o próximo, independente de sua sexualidade”, explicou.
Segundo Denílson, dados divulgados pelo MEC apontam que uma grande parcela de jovens desistem do ambiente acadêmico de forma precoce motivados por atos homofóbicos. “O grande desafio das entidades, em especial a UNE e a UBES, é intensificar os debates sobre a diversidade nas escolas, bem como nas universidades”, afirmou.
“Para acabar com a homofobia será necessário mais que a criação de Centros de Referência. É preciso coragem para ver que a estrada não termina aí e vai muito além do se que vê. O problema não está na madeira da porta, mas no alicerce da casa”, disse Denílson de cima de um dos trios.
Em cada esquina, em cima de cada trio, as 3 milhões de pessoas se reuniram para a maior parada gay do mundo. A multidão começou a se concentrar na região do metrô Brigadeiro por volta das 10h. Neste mesmo horário, todas as ruas que cruzam e circundam a Avenida Paulista e a Rua da Consolação, trajeto oficial da parada, também foram interditadas. O evento teve início às 12h55 ao som de um inusitado hino nacional em versão tecno.
Hino versão tecno
Participantes elogiam
Na esquina da Avenida Paulista com a Rua da Consolação, um aglomerado de pessoas acompanhavam, sem piscar, a passagem de um dos trios. Ao canto, uma mulher com sua cadelinha no colo assiste tudo, boquiaberta. Moradora da Rua Haddock Lobo desde a infância, Laura Calmon comenta que é a primeira vez que prestigia o evento. “Considero todos esses movimentos, em especial a parada gay, importantíssimos. Eles legitimam a nossa liberdade de expressão. Todas as questões que envolvem preconceito, pedofilia, homofobia, entre outros, devem acabar. E essas manifestações são ferramentas eficazes no que diz respeito à conscientização”, falou com a reportagem do EstudanteNet a dona de casa de sorrisos nos lábios.
Para Mauro Tavares, que curtia a festa em frente ao vão livre do Masp, participar não é mais novidade. “Essa é a quinta vez que venho à parada. O engraçado é que sempre parece a primeira vez”, brincou. Mauro contou que já sofreu preconceito por assumir sua sexualidade em vários momentos, mas garante não se importar. “O preconceito vem do simples fato de como as pessoas te olham, te julgam e, muitas vezes, te destratam. Mas não tem problema, eu sou mais eu!”, exclamou, com veemência.
Ainda em frente ao Masp, duas senhoras comentam entre si sobre a organização da edição 2010 da parada gay. “Em vista do que era no começo, hoje, dá gosto de ver. Tem até cordão de isolamento nos carros”, comentou uma das senhoras cotovelando sua amiga.
Famosos marcam presença
Assim como em outras edições, várias celebridades estiveram presentes à 14º Parada do Orgulho Gay de São Paulo. Entre eles, Isis Stefanelli (apresentadora do TV Fama, da Rede TV, e ex-BBB); Serginho e Dicesar (representantes da turma dos “coloridos” no BBB 10), além de Sabrina Boing Boing (atriz pornô).
Por Paulo Tonon
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